Saberes (etno)biológicos que circulam em uma feira livre: aportes para uma educação científica decolonial
(Ethno)biological knowledge circulating at an open fair: inputs to decolonial scientific Education
Palavras-chave:
Etnobiologia, Educação não formal, Educação em CiênciasResumo
A educação em ciências tem permeado e sido permeada por movimentos de construção de uma educação decolonial. Frente a isso, foi desenvolvido um estudo qualitativo com oito feirantes de uma expressiva feira livre do interior de Minas Gerais com o objetivo de compreender alguns dos saberes (etno)biológicos que ali circulam, seus significados, características e funções. Entrevistas e observações compuseram os dados que foram analisados com técnicas de análise de conteúdo. Foi demonstrada a importância da feira como um espaço de circulação de saberes (etno)biológicos de relevância para a região. Diversos produtos foram citados pelos entrevistados pela sua importância nutricional, terapêutica e estética. Ademais, os saberes foram caracterizados de modo sistematizado e suas principais funções incluem uma melhor produtividade agrícola e um fomento à curiosidade sobre o mundo biológico.
Palavras-chave: Etnobiologia; Educação não formal; Educação em Ciências.
Abstract
Science education has permeated and been permeated by movements to build a decolonial education. In view of this, a qualitative study was developed with eight traders from a significant street market in the interior of Minas Gerais with the aim of understanding some of the (ethno)biological knowledge that circulates there, their meanings, characteristics and functions. Interviews and observations compose the data that were analysed using content analysis techniques. The results demonstrate the importance of the fair as a space for circulation of (ethno)biological knowledge of regional relevance. Several products were cited by interviewees for their nutritional, therapeutic and aesthetic importance. Furthermore, knowledge was characterized in a systematic way and its main functions include better agricultural productivity and fostering curiosity about the biological world.
Keywords: Ethnobiology; Non-formal Education; Science Education.
Downloads
Referências
ARAÚJO, Geane Machado; BAPTISTA, Geilsa Costa Santos. Etnobiologia e diálogo intercultural: concepções de professores de ciências e implicações para a formação docente. Ethnoscientia, [S. L.], v. 5, p. 1-9, 2020.
BALICK, Michael J.; COX, Paul Alan. Plants, People, and Culture: the science of ethnobotany. New York City: W H Freeman & Co, 1996.
BAPTISTA, Geilsa Costa Santos; ARAÚJO, Geane Machado. Práticas etnobiológicas para o desenvolvimento da competência intercultural na formação do professor de biologia. Gaia Scientia, [s. l], v. 12, n. 2, p. 76-88, 20 jun. 2018.
BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. 5ª edição revista e ampliada Lisboa: Edições 70, 2009.
BERTOLDI, Anderson. Alfabetização científica versus letramento científico: um problema de denominação ou uma diferença conceitual? Revista Brasileira de Educação, v. 25, p. e250036, 2020.
BRITTO, Néli Suzana. Educação do Campo, área Ciências da Natureza e Ensino de Biologia: questões, reflexões e ações para docência na Educação Superior e Básica. Revista de Ensino de Biologia da SBEnBio, v. 8, p. 32-44, 2016.
CARVALHO, Adrielle da Silva; MEDEIROS, Maria Jaislanny Lacerda e. Contribuições de estudantes campesinos sobre o conhecimento de plantas medicinais. Revista Cocar, n. 22, 2023.
CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social. Revista Brasileira de Educação, [s. l], v. 22, p. 89-100, 2003.
DIEGUES, Antonio Carlos Sant’Ana. O Mito Moderno da Natureza Intocada. 6ª edição revista e ampliada. São Paulo: Hucitec: NUPAUB-USP/CEC, 2008.
Fals Borda, Orlando. Una sociología sentipensante para América Latina. México, D. F.: Siglo XXI Editores; Buenos Aires: CLACSO, 2015.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 54ª edição revista e atualizada. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2013.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. 1ª ed. (reimpr.). Rio de Janeiro: Editora LTC, 2011.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal: direitos e aprendizagens dos cidadãos(ãs) em tempos do coronavírus. Humanidades & Inovação, v. 7, n. 7.7, 2020.
JOSE, Sarah B.; WU, Chih‐Hang; KAMOUN, Sophien. Overcoming plant blindness in science, education, and society. Plants, People, Planet, v. 1, n. 3, p. 169–172, jul. 2019. Disponível em: <https://nph.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ppp3.51>.
LOPES, Dulcelaine Lucia. Diário de campo: o registro da reconstrução da natureza e da cultura. In: WHITAKER, Dulce, Consuelo, A. (Org). Sociologia rural: questões metodológicas emergentes. São Paulo: Ed. Letras à Margem, 2002.
LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Métodos de coleta de dados: observação, entrevista e análise documental. In: LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986.
LUNE, Howard; BERG, Bruce L. Qualitative research methods for the social sciences, Global Edition. London-UK: Pearson Education Limited, 2017.
MCALVAY, Alex C. et al. Ethnobiology Phase VI: Decolonizing Institutions, Projects, and Scholarship. Journal of Ethnobiology, v. 41, n. 2, p. 170–191, 2021.
MEMMI, Albert. Retrato do colonizado precedido de retrato do colonizador. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2007.
Miglievich, Adelia. Intelectuais e epistemologia crítica latino-americana: do anti-colonial ao decolonial. Rassegna iberistica, v. 39, n. 105, 2016.
MOREIRA, Marcos Paulo; SOUZA, David Fernandes de; ANGELO, Elisangela Andrade. Conhecimento etnobiológico de uma comunidade rural como fonte de informação para material informativo-educativo. Ethnoscientia, [S. L.], v. 20, n. 1, p. 1-13, 2020.
NAGUMO, Estevon; TELES, Lúcio França; SILVA, Lucélia de Almeida. Educação e desinformação. ETD - Educação Temática Digital, v. 24, n. 1, p. 220–237, 2022.
OLIVEIRA, Clara Sena Mata; THÉ, Ana Paula Glinfskoi. Etnobiologia diante um olhar interdisciplinar na formação continuada. Ethnoscientia, v. 7, n. 2, 2022.
OLIVEIRA, Kátia Luzia Soares; OLIVEIRA, Gracy Kelly Andrade Pignata. A educação freiriana pelas lentes do anticolonialismo e dos estudos pós-coloniais e decoloniais. Reflexão & Ação, v. 30, n. 1, p. 57-68, 2022.
PARSLEY, Kathryn M. Plant awareness disparity: A case for renaming plant blindness. Plants, People, Planet, v. 2, n. 6, p. 598–601, 2020.
POZO, Juan Ignacio; CRESPO, Miguel Ángel Gómes. A aprendizagem e o ensino de ciências: do conhecimento cotidiano ao conhecimento científico. 5ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2009.
RIBEIRO, Simone Cardoso; MELO, Nyrreyne Dias Pereira de; BARROS, Arthur Bezerra. Etnoconhecimento de pequenos agricultores tradicionais sobre plantas medicinais no tratamento de dores provocadas pelo trabalho. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, v. 24, n. 3, p. 563-574, 2016.
ROSA, João Guimarães. Grande Sertão: veredas. 19ª edição, 9ª impressão. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2001.
SANTOS, Mateus Jesus dos; MIRANDA, Camila Lima. Saberes populares do Assentamento Luiz Inácio Lula da Silva: ressonâncias nas práticas pedagógicas em Ciências da Natureza e Agroecologia. REVISTA COCAR, v. 19, p. 1-21, 2023.
SANTOS, Regiane Lopes dos; LIMA JUNIOR, Paulo. Estaríamos Vivenciando uma Virada Decolonial na Educação em Ciências Brasileira? Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências, v. 23, p. e47934, 2023.
SILVA, Iêda Tanan da; FREIXO, Alessandra Alexandre. Ensino de botânica e classificação biológica em uma escola família agrícola: diálogo de saberes no campo. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, v. 22, 2020.
SILVA, Joaklebio Alves da; RAMOS, Marcelo Alves. Conhecimentos tradicionais e o ensino de ciências na educação escolar quilombola: um estudo etnobiológico. Investigações em Ensino de Ciências, [S. L.], v. 24, n. 3, p. 121-146, 2019.
SILVA, Maíra Batistoni e; SASSERON, Lúcia Helena. Alfabetização científica e domínios do conhecimento científico: proposições para uma perspectiva formativa comprometida com a transformação social. Ensaio: Pesquisa em Educação em Ciências, v. 23, p. 1–20, 2021.
SOUZA, Carolina. As feiras livres como lugares de produção cotidiana de saberes do trabalho e educação popular nas cidades: alguns horizontes teóricos e analíticos no campo trabalho-educação. Trabalho Necessário, [S. L.], v. 13, n. 22, p. 126-144, 2015.
STAGG, Bethan C.; DILLON, Justin. Plant awareness is linked to plant relevance: A review of educational and ethnobiological literature (1998–2020). Plants, People, Planet, v. 4, n. 6, p. 579–592, 2022.
STAKE, Robert E. Pesquisa qualitativa: estudando como as coisas funcionam. Porto Alegre: Penso, 2011.
UBERABA. Decreto nº 5235, de 28 de fevereiro de 2020. Declara a Feira da Abadia como Patrimônio Imaterial Cultural de Uberaba e dá outras providências. Porta-Voz (órgão oficial do município), ano 25, nº 1786, 2020.
URSI, Suzana; SALATINO, Antonio. É tempo de superar termos capacitistas no ensino de biologia: “impercepção botânica” como alternativa para “cegueira botânica”. Boletim de Botânica, v. 39, 2022.
VILELA, Mariana Lima; SELLES, Sandra Escovedo. É possível uma Educação em Ciências crítica em tempos de negacionismo científico? Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 37, n. 3, p. 1722–1747, 2020.
WHITAKER, Dulce Consuelo Andreatta. Educação Rural: da razão dualista, à razão dialética. Retratos de Assentamentos, v. 11, n. 1, 2008.
Downloads
Publicado
- Visualizações do Artigo 20
- pdf downloads: 11
