A reforma do Ensino Médio como vetor de um novo horizonte de juventude: fantasias neoconservadoras, projetos de subjetivação e tensões hegemônicas
High school reform as a vector for a new horizon for youth: neoconservative fantasies, projects of subjectivation and hegemonic tension
Keywords:
Políticas curriculares; Juventude; Subjetivação.Abstract
O artigo analisa a reforma do Ensino Médio como horizonte hegemônico de produção de subjetividades juvenis no Brasil, articulando racionalidades neoliberais e neoconservadoras. Com base na Teoria Política do Discurso e na abordagem das lógicas, discute-se como o Novo Ensino Médio (NEM) mobiliza fantasias de autogestão, empreendedorismo e moralidade para constituir um novo ideal juvenil. Argumenta-se que tais políticas operam por meio de lógicas fantasmáticas que organizam desejos, estruturam identificações e tentam estabilizar sentidos. O texto aponta também para as possibilidades de deslocamento, afirmando a juventude como campo político de disputa simbólica e reinvenção subjetiva.
Palavras-chave: Políticas curriculares; Juventude; Subjetivação.
Abstract
This article analyzes the high school reform as a hegemonic horizon for the production of youth subjectivities in Brazil, articulating neoliberal and neoconservative rationalities. Drawing on Discourse Theory and the logics approach, it discusses how the New High School (NEM) mobilizes fantasies of self-management, entrepreneurship, and morality to construct a new youth ideal. It is argued that such policies operate through fantasmatic logics that organize desires, structure identifications, and attempt to stabilize meanings. The text also highlights possibilities for displacement, affirming youth as a political field of symbolic dispute and subjective reinvention.
Keywords: Curriculum policies; Youth; Subjectivation.
Downloads
References
ABRAMO, Helena. Considerações sobre a tematização social da juventude no Brasil. Revista Brasileira de Educação, v. 6, n. 5, p.25-36, 1997.
ARAÚJO, Hellen; LOPES, Alice. Redes políticas na educação brasileira: o caso da Base Nacional Comum Curricular. Education Policy Analysis Archives, v. 31, 2023.
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.
BALL, Stephen. Educação Global S.A. Ponta Grossa: Ed. UEPG, 2014.
BALL, Stephen; OLMEDO, Antônio. A “nova” filantropia, o capitalismo social e as redes de políticas globais em educação. In: PERONI, Vera. Redefinições das fronteiras entre o público e o privado: implicações para a democratização da educação. Brasília: Liber, 2013. p. 33-47.
BOLTANSKI, Luc; CHIAPELLO, Eve. O novo espírito do capitalismo. São Paulo: Martins Fontes, 2020.
BRASIL. Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. Brasília, 2006.
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Manual operacional de Educação Integral. Brasília, 2012.
BRASIL. Lei 12.852 de 5 de agosto de 2013. Institui o Estatuto da Juventude e dispõe sobre os direitos dos jovens, os princípios e diretrizes das políticas públicas de juventude e o Sistema Nacional de Juventude – SINAJUVE. Brasília, 2013.
BRASIL. Secretaria Nacional de Juventude. Plano Juventude Viva: um levantamento histórico. Brasília: SNJ, 2018.
BROWN, Wendy. Nas ruínas do neoliberalismo. A ascensão da política antidemocrática no Ocidente. São Paulo: Politéia, 2019.
BURITY, Joanildo. Onda conservadora e surgimento da nova direita cristã brasileira? a conjuntura pós-impeachment no Brasil. Ciencias Sociales y Religión, v. 22, 2020.
BURITY, Joanildo. Minoritização, religião pública e populismo religioso no Brasil. REVER: Revista de Estudos da Religião, v. 24, n. 1, p. 11-27, 2024.
BUTLER, Judith. Corpos em aliança e a política das ruas: notas para uma teoria performativa de assembleia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2018.
CALABRIA, Thiago; CHAGAS, Liliane Alves; RODRIGUES, Ana Cláudia da Silva. “Sempre me sonharam”: o processo de subjetivação neoliberal em escolas cidadãs integrais na Paraíba. Educação: Teoria e Prática, v. 35, n. 69, 2025.
CARRANO, Paulo; SPOSITO, Marilia. Juventude e políticas públicas no Brasil. Revista Brasileira de Educação, v. 1, n. 24, 2003.
CARRANZA, Brenda. Catolicismo midiático. Aparecida: Ideias e Letras, 2011.
CARVALHO, Ana; AXER, Bonnie; FRANGELLA, Rita. As redes de políticas e a teoria do discurso: potências teórico-epistemológicas para leitura do movimento político-educacional na contemporaneidade. Revista Educação e Cultura Contemporânea, v. 16, n. 46, p. 69-85, 2019.
CLARKE, Matthew. Eyes wide shut: the fantasies and disavowals of education policy. Journal of Education Policy, v. 35, n. 2, p. 151-167, 2018.
CONNOLLY, William. Capitalism and Christianity, American style. Durham: Duke University, 2008.
DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.
FINK, Bruce. O sujeito lacaniano: entre a linguagem e o gozo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
FOUCAULT, Michel. Segurança, território, população. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
FRANK, Thomas. The conquest of cool: business culture, counterculture, and the rise of hip consumerism. Chicago: University of Chicago Press, 1997.
GLYNOS, Jason; HOWARTH, David. Logics of Critical Explanation in Social and Political Theory. London: Routledge, 2007.
GLYNOS, Jason; OLIVEIRA, Gustavo; BURITY, Joanildo. Critical Fantasy Studies: neoliberalism, education and identification. Série-Estudos, v. 24, n. 52, p. 145-170, 2019.
GLYNOS, Jason; STAVRAKAKIS, Yannis. Lacan and political subjectivity: fantasy and enjoyment in psychoanalysis and political theory. Subjectivity, n. 24, p. 256-274, 2008.
GROPPO, Luís. Juventudes: sociologia, cultura e movimentos. Alfenas: Unifal, 2016.
HONORATO, Rafael; ALBINO, Ângela; RODRIGUES, Ana. Educação integral no sistema socioeducativo: o currículo como redes de significações discursivas. Revista Teias, v. 20, n. 59, p. 334-350, 2019.
HOWARTH, David; STAVRAKAKIS, Yannis. Introducing Discourse Theory and Political Analysis. In: HOWARTH, David; STAVRAKAKIS, Yannis. Discourse Theory And Political Analysis. Manchester: Manchester University Press, 2000. p. 01-23.
LACLAU, Ernesto. A razão populista. São Paulo: Três Estrelas, 2013.
LACLAU, Ernesto; MOUFFE, Chantal. Hegemonia e estratégia socialista: por uma política democrática radical. Tradução Sérgio Bath. 2. ed. São Paulo: Três Estrelas, 2015.
LOPES, Alice. Ensino Médio: criando um projeto moral para gerenciar o futuro dos jovens. Cadernos de Pesquisa (Fund. Carlos Chagas), v. 54, e11191, p. 1-21, 2024.
MACEDO, Elizabeth; SILVA, Marlon. A promessa neoliberal-conservadora nas políticas curriculares para o Ensino Médio: felicidade como projeto de vida. Revista Educação Especial, v. 35, p. 1-23, 2022.
OLIVEIRA, Gustavo. Provocações para aguçar a imaginação/invenção analítica: aproximações entre a Teoria Política do Discurso e Análise do Discurso em Educação. In: LOPES, Alice; OLIVEIRA, Anna; OLIVEIRA, Gustavo. A teoria do discurso na pesquisa em educação. Recife: Editora UFPE, 2018. p. 169-216
OLIVEIRA, Gustavo; OLIVEIRA, Anna. Malditos os que têm fome e sede de justiça: discursos cristãos neoconservadores e lógicas neoliberais na educação brasileira. Currículo sem Fronteiras, v. 22, e1155, p. 1-25, 2022.
OLIVEIRA, Marcia; DIAS, Rosanne. Redes políticas em prol de “fazer valer a BNCC, na prática”: a educação pública é de quem? Currículo sem Fronteiras, v. 22, p. e2181, 2022.
PEREIRA, Talita; SIRINO, Marcio. Sentidos articulados sobre o conceito de educação integral. Revista e-Curriculum, v. 18, n. 1, p. 200-220, 2020.
POPKEWITZ, Thomas. Estudos curriculares, história do currículo e teoria curricular: a razão da razão. Em Aberto, v. 33, n. 107, p. 47-68, 2020.
RANNIERY, Thiago; MEDEIROS, Ricardo. Uma rede passa pelo currículo: difração e modos de existência na política curricular. Roteiro, v. 46, 2021.
RODRIGUES, Ana; HONORATO, Rafael. Redes de política de educação integral da Paraíba: fluxos e influências neoconservadoras e neoliberais. Roteiro, v. 45, p. 1-32, 2020.
ROSZAK, Theodore. The making of a counter culture: reflections on the technocratic society and its youthful opposition. Berkeley: University of California Press, 1995.
SERRA, Carlos; SOUZA, Luís; CIRILLO, Fernanda. Guerra às drogas no Brasil contemporâneo: proibicionismo, punitivismo e militarização da segurança pública. Teoria e Cultura, v. 15, n. 2, 2020.
SHARPE, Matthew; TURNER, Katherine. Fantasy. In: STAVRAKAKIS, Yannis. Routledge Handbook of Psychoanalytic Political Theory. New York, Routledge, 2020. p. 187-198.
SIBILIA, Paula. O show do eu: a intimidade como espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.
SILVA, Silas; FREITAS, Raquel. Sublinhando limiares teórico-políticos: sonhar currículo(s) e reconhecimento(s) a partir de um viés discursivo e pós/de-colonial. Currículo sem Fronteiras, v. 24, p. e2539, 2024.
SILVA, Silas; OLIVEIRA, Gustavo. Projeto de vida, empreendedorismo e processos de subjetivação neoliberais na educação pernambucana. Currículo sem Fronteiras, v. 23, p. 1-22, 2024.
SOARES, Luiz Eduardo. A Política Nacional de Segurança Pública: histórico, dilemas e perspectivas. Estudos Avançados, v. 21, p. 77-97, 2007.
TAKEUTI, Norma. Paradoxos societais e juventude contemporânea. Estudos de Psicologia, Natal, v. 17, p. 427-434, 2012.
TEIXEIRA, Faustino; MENEZES, Renata. Religiões em movimento: o censo de 2010. Petrópolis: Vozes, 2014.
ZIZEK, Slavoj. O sublime objeto da ideologia. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2024.




















