“A roça é uma escola”: as referências próprias de conhecimento do povo indígena Palikur
“The farm is a school”: the Palikur indigenous people's own references to their knowledge
Palavras-chave:
Conhecimento indígena, Povo Palikur, Saberes tradicionais, Educação escolarResumo
O artigo se volta para uma reflexão sobre a construção de conhecimento indígena a partir da tradição e do estilo de vida do povo Palikur, tendo como horizonte de análise a imersão do indivíduo em dois aspectos essenciais para a construção e manutenção da territorialidade indígena: as roças e o cuidado com as mulheres grávidas e os bebês. Ao longo da reflexão, demonstra-se que esses dois aspectos da vida Palikur são constituídos de saberes ancestrais, alianças e acordos com o mundo invisível, além de se estruturar numa cadeia de conhecimentos que constitui e integra o indivíduo ao mundo Palikur. Compreendemos que o repertório de compreensão da realidade desse povo indígena extrapola o saber-fazer da prática cotidiana, e isso significa que suas práticas ancestrais acentua a necessidade de estabelecerem projetos de vida que superem as imposições do Estado. Desse modo, o conhecimento indígena adquirido no caminho da roça, na própria roça, na ação invisível que o pajé executa com o mundo espiritual, e nos cuidados com as mulheres grávidas e os bebês recém-nascidos, são imprescindíveis para reafirmar sua identidade e reivindicar que esses saberes não são menos importantes daqueles transmitidos na escola.
Palavras-chave: Conhecimento indígena; Povo Palikur; Saberes tradicionais; Educação escolar.
Abstract
This article reflects on the construction of indigenous knowledge based on the tradition and lifestyle of the Palikur people. The horizon of analysis is the immersion of the individual in two essential aspects for the construction and maintenance of indigenous territoriality: the fields and the care given to pregnant women and babies. Throughout this reflection, it is shown that these two aspects of Palikur life are made up of ancestral knowledge, alliances and agreements with the invisible world, as well as being structured in a chain of knowledge that constitutes and integrates the individual into the Palikur world. We understand that the repertoire of understanding of the reality of this indigenous people goes beyond the know-how of everyday practice, and this means that their ancestral practices emphasize the need to establish life projects that go beyond the impositions of the state. In this way, the indigenous knowledge acquired on the way to the farm, in the farm itself, in the invisible action that the shaman performs with the spirit world, and in the care of pregnant women and newborn babies, is essential for reaffirming their identity and claiming that this knowledge is no less important than that transmitted in regular schools.
Keywords: Indigenous knowledge; Palikur people; Traditional knowledge; School education.
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