A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA LEITURA: UM DE SEUS PERIGOS
DOI:
10.69675/RCU.2763-7646.9993Palavras-chave:
Leitura, Sociedade, DeclínioResumo
Este artigo tem como objetivo apresentar, com argumentação sólida e fundamentada, a construção social da leitura como um de seus possíveis riscos, particularmente no que se refere à sua desapropriação enquanto valor em si mesma e à sua instrumentalização para a obtenção de saberes estritamente utilitários. Para desenvolver essa reflexão, recorre-se às contribuições teóricas de autores como Freire (2011), Soares (2010), Chartier (1999) e Marcuschi (1999), cujas perspectivas oferecem um panorama aprofundado sobre a leitura enquanto prática socialmente mediada. Parte-se da premissa de que os indicadores sociais da leitura têm apresentado um agravamento significativo, em grande parte devido à consolidação de uma leitura artificializada, cuja principal consequência tem sido a desvalorização da dimensão individual e introspectiva dessa prática. Para sustentar essa análise, o artigo se estrutura em duas seções principais: a primeira, intitulada A leitura como construção social, revisita as concepções dos teóricos mencionados acerca da leitura como uma experiência de partilha interativa, permitindo a compreensão mais ampla desse fenômeno; a segunda, Notícias recentes sobre a leitura, examina reportagens jornalísticas publicadas em 2024, que retratam o panorama atual da leitura no Brasil, evidenciando desafios e tendências. Como um dos principais desdobramentos desta investigação, levanta-se a hipótese de que um dos riscos enfrentados pela leitura na contemporaneidade seja sua crescente associação à necessidade de interconectividade, compartilhamento e validação externa. Esse movimento, paradoxalmente, pode fragilizar sua permanência enquanto experiência subjetiva e autônoma, esvaziando seu potencial como espaço de reflexão, elaboração crítica e formação do pensamento individual.
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